São Luis
A EXPRESSÃO DO MARANHÃO
A primeira coisa a fazer ao chegar em São Luis é esquecer de classificá-la. Estamos no Norte ou Nordeste? Nos dois e em nenhum deles, pois a cidade se apresenta em uma estonteante mistura dessas regiões somadas a outras particularidades.
A cidade de São Luis já nasceu multicultural. Fundada em 1.612 por franceses, foi disputada pelos holandeses, até que os portugueses a retomaram. É curiosamente conhecida como uma das mais lusitanas cidades brasileiras.
A convivência de brancos, índios e negros legou às gerações futuras um patrimônio histórico e cultural de rara beleza. Em 1.997, a importância deste patrimônio foi reconhecida pela UNESCO ("Não existe no mundo nada igual ao acervo cultural e arquitetônico de São Luís") com o tombamento da cidade como Patrimônio da Humanidade.
Reunindo mais de 3.000 edificações, o Centro histórico de São Luís possibilita ao visitante a vertiginosa sensação de uma viagem através do tempo. Viagem de primeira classe, se considerarmos a homogeneidade e imponência do casario colonial, inspirador de pintores, romancistas e poetas.
Parcialmente recuperado e preservado, o bairro Histórico de São Luís, onde se concentrou a fervilhante atividade da cidade no passado, ostenta hoje mais de 200 edificações restauradas em mais de 10,7 hectares. São inúmeras e instigantes, as curiosidades que cercam o Centro Histórico de São Luís. Suas ruas possuem nomes poéticos e cobrem-se com o brilho das fachadas azulejadas e a beleza dos incontáveis telhados. Os azulejos são portugueses, franceses e holandeses, como quase tudo que diz respeito à história da Ilha de Upaon Açu (Ilha Grande pelos índios Tupinambás). Há pedras de cantaria portuguesas nas calçadas seculares por onde pelo menos uma vez, passaram nomes como Gonçãlves Dias e Aluísio de Azevedo. Em cada beco e em cada esquina há uma história a ser contada. Talvez por isso diz a lenda: "Quem por aqui pernoita, acorda poeta".
Conhecido como terra das palmeiras, o Maranhão tem nas várias espécies desta árvore a sua principal fonte de renda. Entre as mais significativas do ponto de vista econômico está o babaçu. A agropecuária, as indústrias de transformação de alumínio e de alumina, e as indústrias alimentícia e madeireira complementam a economia estadual.
Ao contrário de outros estados da região Nordeste, o Maranhão não sofre com a seca. Existe em seu território uma extensa rede de rios perenes, além de uma estação chuvosa regular. Fazem parte desta rede o rio Parnaíba, o maior deles, e os rios Gurupi, Grajaú e Tocantins, que corre ao sul delimitando a fronteira do Maranhão com o estado de Tocantins.
A CONVIVÊNCIA ENTRE O SAGRADO E O PROFANO
O importante vigor de manifestações culturais como o bumba-meu-boi e o tambor-de-crioula - para ficar em apenas dois exemplos - é um dos motivos pelos quais ninguém visita São Luís impunemente. Em uma cidade que se moderniza a passos largos, é emocionante constatar o respeito quase místico que seus habitantes, sem diferenças de classe, mantêm por suas tradições culturais. O mesmo orgulho pela São Luís dos grandes literatos é demonstrado diante dos artífices da cultura popular. Em São Luís, todos parecem reconhecer que tudo jorra da mesma fonte, que o erudito não subsiste sem o forte substrato da cultura popular.
Afirmação de vida num auto de morte e ressureição, o bumba-meu-boi sintetiza influências indígenas, portuguesas e africanas em festiva referência ao ciclo do gado no Estado. O tambor-de-crioula, por sua vez, é herança africana em estado quase natural, assim como o tambor de mina, de caráter religioso, que remete ao candomblé através dos cultos de Jeje e Nagô, impressionantemente preservados em seus dialetos originais.
Festa do Divino Espírito Santo, de origem portuguesa, dança de São Gonçalo, cacuriá, caroço e lelê completam o Império dos Tambores, onde pulsa mais forte a alma ludovicense (ou são-luisense) .
O calendário festeiro de São Luís começa em fevereiro, com um dos carnavais de rua mais tranquilos e animados do País. A folia é garantida por uma variedade de brincadeiras como fofões, tribos de índios, ursos, casinha da roça, tambor-de-crioula, bandas e blocos tradicionais e de ritmo, além dos desfiles das escolas de samba. O endereço certo da folia é o bairro da Madre Deus, próximo ao Centro Histórico, responsável pela retomada da autêntica vocação do carnaval da ilha.
Mas é junho o mês por excelência da grande festa popular maranhense, quando a ilha se transforma em um grande arraial, que consome e devolve renovada a energia dos brincantes. Nativos ou não, pouco importa, todos se confundem em uma explosão de alegria, sons e cores.
É hora de rufarem os tambores de São Luís. O bumba-meu-boi, nos sotaques de matraca, orquestra e zabumba é o grande mestre de cerimônias desse delirante espetáculo a céu aberto. Cada sotaque, uma marca pessoal, de magia envolvente e irresistível. Mas é preciso fôlego e alguma catuaba pra acompanhar ainda as umbigadas do tambor-de-crioula (conhecida como a dança do santo preto por ser ligada à devoção a São Benedito), quadrilhas, dança do coco, cacuriá-lelê, São Gonçalo, bambaê de caixa, dança portuguesa, de fita e outras).
LENDAS E MISTÉRIOS
A referência a lendas e mistérios é obrigatória quando se fala de São Luís, pelo muito que dizem do imaginário popular local. Pode-se afirmar, sem exagero, que festa e mistério são duas vocações dos maranhenses, podendo a festa ser a própria celebração do mistério, a exemplo da Festa do Divino. Segundo a mais antiga das lendas da ilha (O milagre de Duaxenduba), de proporções épicas, a própria Virgem Maria teria descido dos céus para ajudar os batalhões portugueses a expulsar os franceses em 1.615. Já a controvertida figura histórica de Dona ana Jansen, senhora de escravos, de grande influência política e econômica na São Luís do século XIX, deu origem a uma das lendas mais difundidas na primeira metade do século, graças em parte, ao deficiente abastecimento de energia elétrica. Como penitência por suas crueldades contra os escravos, Ana Jansen teria sido condenada a vagar pelas ruas da cidade nas noites de sexta-feira, em uma carruagem puxada por cavalos decapitados, sob o comando de um cocheiro igualmente mutilado.
Há também a Lenda da Serpente Adormecida, que rodeia a ilha e um dia haverá de fechar seu abraço mortal, fazendo a ilha de são Luís desaparecer no oceano. A Lenda da Manguda é datada do século passado e teve origem em uma farsa idealizada e mandada por comerciantes envolvidos no contrabando de mercadorias - principalmente tecidos europeus - introduzidas na praça local sem o pagamento dos tributos devidos. A figura fantasmagórica, criada pelos contrabandistas logo foi batizada de Manguda, em virtude de trajar chambre alvo, de mangas muito largas e compridas. O rosto era encoberto por máscara e da cabeça nascia uma nuvem de fumaça.
Fonte:
BRASIL. Ministério do Interior. Fundação do Projeto Rondon Monumentos históricos do Maranhão. São Luís.